como sair do básico?

Como sair do básico?

Na tentativa de ir além das combinações de sempre, você procura referências, passa horas no Pinterest e salva looks maravilhosos. Mas, na hora de fazer igual, o resultado nunca fica conforme o esperado.

Esse drama não é só seu. Muitas mulheres se queixam que querem usar looks mais criativos, mas cada tentativa começa cheia de inspiração e referências perfeitas e termina em frustração. Por que os looks incríveis parecem não funcionar em você? Como sair do básico desse jeito?

Antes de responder essas perguntas, vamos definir aqui o que significa sair do básico. Para mim, sair do básico não tem nada a ver com se vestir de quem a gente não é. Aliás, é o oposto disso: sair do básico é usar as próprias estruturas para criar e brincar. É descobrir maneiras novas de colocar para o mundo a sua personalidade, além daquelas que você já conhece.

Na dúvida, escute Miles Davis

Fazer isso é perfeitamente possível para todas as mulheres. Não fique aí achando que pode rolar com todo mundo, menos com você. Só que existem caminhos para essa saída do básico, e para te ajudar a trilhá-los, eu preciso traçar um paralelo com o jazz. Parece completamente aleatório, mas eu juro pra você que tudo vai fazer sentido.

Coloca seu jazz favorito nos fones e vem comigo.

Em 1957, Miles Davis foi passar uma temporada na França. Em Paris, foi convidado pelo diretor Louis Malle para compor a trilha sonora do filme Ascensor para o Cadafalso. Nessa época, os compositores recebiam algumas informações para criar trilhas sonoras: eles sabiam exatamente quantos minutos tinham que tocar, em quais ritmos, quais notas. Só que, quando chegou a vez do Miles, ele entrou no estúdio e compôs tudo ali mesmo, sem escrever as notas, sem nenhuma informação prévia, apenas olhando para a tela, acompanhando o filme e tocando no feeling. Literalmente, no improviso.

Logo depois, Miles Davis gravou o álbum Kind of Blue – que é maravilhoso – nessa mesma pegada. Chegava no estúdio, se cercava dos músicos em quem confiava, jogava umas notas e deixava a música fluir para todo mundo. Quem manja do assunto diz que isso revolucionou a forma de fazer jazz – recomendo o documentário Miles Davis: Birth of The Cool, pra saber mais.

Como sair do básico: aprendendo com o jazz

Ok, mas onde entram as referências de looks do Pinterest e a dificuldade em reproduzi-los? Bom, o jazz é improviso, mas ele também tem estrutura. É uma maneira de tocar. O Daniel Daibem, que deu uma entrevista para o podcast PodCumê, diz que o jazz é como a capoeira: você tem um vocabulário de golpes e vai jogando a partir dali. Com o jazz é a mesma coisa, o músico sabe tocar, entende a lógica e, a partir dela, faz no improviso.

O mesmo se aplica ao seu estilo e ao desejo de sair do básico. Quando você olha para uma foto, gosta do look e tenta fazer igual, você está pensando no resultado final, na música final, em vez de focar na estrutura.

image: Maria Lupan via Unsplash

Um exemplo mais prático: você salva uma foto de uma mulher de terninho vermelho porque achou o look maravilhoso. Aí você lembra que tem um blazer vermelho e uma calça vermelha. Veste ambos, vai se olhar no espelho e… Fica frustrada! O resultado que você enxerga é totalmente diferente do esperado. Mas como, se você e a moça da foto estão usando blazer e calça vermelhos?

Qual é a sua estrutura?

É que o blazer e a calça são o resultado final, mas não a estrutura. Enquanto o blazer da foto pode ser de veludo brilhoso, acinturado, tem decote profundo em V e foi usado sem blusa por baixo, o seu blazer é de linho, sem brilho, com modelagem mais solta, decote mais fechado e foi usado com camiseta branca por baixo. A calça da foto também pode ser de veludo brilhoso e tem um corte mais sequinho, ajustado ao corpo. E a sua é pantalona. Percebe as diferenças?

Mais importante do que copiar o resultado final é entender a estrutura do look que você gostou. É isso que vai te guiar nas suas composições e torná-las únicas, mas sem destoar do seu estilo.

Você gostou da foto do terninho vermelho, mas não necessariamente você ama todo e qualquer terninho vermelho. Pode ser o brilho da cabeça aos pés. Pode ser a textura gostosinha do veludo. Talvez tenha sido a mistura entre essa textura que inspira conforto à seriedade de um conjunto de blazer e calça. Ou então, foi o tanto de pele à mostra no decote profundo sem nada por baixo.

Como sair do básico: eis o segredo

Entendendo isso, a mesma foto pode servir de inspiração para um look de macacão, vestido ou saia e blusa. Ou até para um look de blazer e calça, mas que siga a estrutura que você gosta. Aí, sim, o resultado final vai ser o “dig din dig din dig din” daquele famoso funk “Sou Foda” tocando pra você no espelho.

Portanto, se você quer saber como sair do básico, a minha sugestão é que primeiro, entenda o que é estrutural seu. Qual é a lógica do jazz para você? Com essa informação, fica mais fácil mapear, em uma ocasião, o que está dentro dos seus objetivos naquele dia, o que o ambiente pede de você, e mediar todos esses pontos.

Sem entender a estrutura do seu estilo, e do que você realmente gosta no terninho vermelho – ou no vestido esvoaçante, ou no look hot pant e top cropped – vai ser muito difícil sair do básico com um look que te represente de verdade.

 

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