As memórias do meu estilo

Quando eu ia completar 6 anos, meu pai me levou até a Mesblapara escolher a minha possível Caloi.

Saí de casa empolgada, já pensando na cor, na cestinha e em todas as possibilidades… A galera chegada na Lei da Atração ficaria orgulhosa do meu poder de visualização naquele momento.

Eis que no meio do caminho tinha uma pedra. Ou melhor, uma casa da Barbie que alguém muito genial do Visual Merchandising resolveu colocar bem na frente das bicicletas.

Uma casa de TRÊS andares. Com terraço, uma escada do tipo caracol e muito rosa. Eu acho que nunca vi um brinquedo tão rosa na minha vida. Eu nem tinha Barbies, mas isso era apenas um detalhe. Como eu quis aquela casa!

De tanto que eu enchi, tive que escolher entre a casa ou a bicicleta. Com o aviso de que se eu não levasse a bicicleta naquele dia, eu não ganharia uma depois.

Long story short: Vitor Hugo era um homem de palavra, então ele cumpriu sua parte do combinado (e nunca mais me levou para escolher presentes também). E apesar da tentativa frustrada de uma tia querida, eu nunca aprendi a andar de bicicleta… até o ano em que cheguei nos meus 30.

Esse texto poderia seguir diversos caminhos como: “nunca é tarde para aprender“, “escolhas de visual merchandising moldam as suas escolhas de consumo“, “nem todo provérbio faz sentido se você não sabe andar de bicicleta” ou “pra quê Amsterdam quando você teve a casa da Barbie?”.

Mas hoje eu quero te falar sobre lembranças.

Segunda, meu marido apareceu com minhas fitas VHSdigitalizadas, fitas com os vídeos de 2 dos meus aniversários da infância – o de 6 sendo um deles.

Pois é. Eu me vi abrindo a casa da Barbie and it’s all coming back to me now. E para além de relembrar essa passagem, pude rever pessoas importantes, muitas que já nem estão mais aqui, com suas risadas, sorrisos e aqueles cabelos maravilhosos da época.

Assistir cada vídeo foi muito importante pra mim. Trouxe de volta muita coisa que ajudou a construir quem eu sou agora. A lembrar o quanto eu sempre fui amada e até a ver quão bizarro foi ganhar o meu primeiro sutiã (rolou até um suspense na abertura do pacote e eu só tinha 6 anos – ah, os anos 80/90!).

Quando eu percebi, estava praticamente refazendo vários dos exercícios que eu criei para as minhas clientes e alunas.

Quem já acompanha o meu trabalho sabe como o olhar ao passado é fundamental na minha metodologia. Não pra cutucar as feridas, mas com um olhar mais curioso para as construções históricas. Eu falo disso no meu livro, nos meus cursos e atendimentos individuais e, ocasionalmente, aqui nessas nossas conversas também.

Mas a lição que essa viagem específica ao passado me trouxe foi a de ver as coisas com outros olhos, além dos meus. De tentar entender as escolhas de quem estava junto de mim ali e não só as histórias do meu ponto de vista – e olha, quando a gente se pergunta “o que motivou essa atitude?” tanta coisa pode mudar!

Confesso: ainda não digeri a história de ter um sutiã com seis anos. Mas percebi que tinha uma lembrança do meu pai sendo muito mais fechado e menos carinhoso comigo do que ele de fato era – talvez pela rigidez com que ele me fez escolher entre a bicicleta e a casa, talvez pelas minhas próprias questões de não-merecimento. E ver o esse mesmo pai todo orgulhosão cantando parabéns comigo, brincando com meus amigos, dançando no meio da festinha e me perguntando se eu tava feliz me fez perceber que a coisa não era bem como eu andava pintando.

Isso muda tudo, incluindo a forma como eu cuido de mim mesma – e estilo passa por esse cuidado, né? Por isso que estou te contando passagens tão pessoais.

Talvez você já tenha olhado pro seu passado e lembradodaquela saia que você não tirava, ou de uma blusa horrível que a sua mãe te fez usar, da vez que o seu irmão zuou a sua roupa ou como o fato de nunca ter tido uma determinada peça afeta as suas compras hoje.

Mas você já parou pra pensar no que fez com que a sua mãe escolhesse aquilo pra você ou na piadinha do seu irmão? No que é fruto de como você se sentiu na época e o que motivou aquilo?

Às vezes você deixa de olhar pro seu armário porque alguma história da sua infância te fez se achar menos digna desse cuidado, às vezes você compra compulsivamente só pra compensar o armário herdado de uma infância… Às vezes brota outra conexão que só você pode fazer, dentro da sua história (eu já vi as mais diversas ao longo desses anos!).

Se você nunca fez nada disso, então te sugiro tirar um tempinho do fim de semana para revisitar algumas fotos e memórias, e se perguntar que padrões que estão ali podem estar sendo repetidos hoje ou que estão motivando reações ainda. Será que você não anda carregando coisas que não deveria por causa de uma única situação, em vez de olhar pro quadro todo? O que dá pra rever que vai mexer na sua relação com a imagem hoje?

Faz aí e me conta como foi!

E claro, se você tiver dificuldade de fazer isso sozinha e quiser ter um olhar mais estruturado, me dá um alô que eu te explico como os meus atendimentos individuais e cursos podem te ajudar, ok?

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