Tendências e Estilo: como se apropriar da moda?

Ao longo dessa mais de uma década trabalhando com tendências e estilo, acabei percebendo 2 grupos grandes de pessoas.

As primeiras querem estar na moda, acompanham desfiles e acreditam que ter estilo é usar a capa da última vogue. As demais não têm a menor paciência para isso e acham que o importante é ser quem se é – independente do que alguém que nunca a viu na vida diga que é “tendência”. Então vem a dúvida:

É melhor ter estilo ou estar na moda?

Eu sempre bato na tecla que se vestir bem nada mais é do que um exercício de autoconhecimento. O que mais conta são as suas necessidades. O fato de algo estar na moda não significa que é bonito ou funciona para você.

Mas a moda também tem lá a sua importância.

Daqui de onde eu vejo, a moda é como se fosse um supermercado. Se você quiser fazer um macarrão, vai encontrar penne, fusilli, spaguetti, capeletti e uma infinidade de opções. Seja em versão integral, com ovos ou grano duro, que você pode cobrir com molho vermelho, ao sugo, rose, alho e óleo, inventar o seu, jogar um bacon para dar aquela alegria, enfim…

Com a moda pode ser a mesma coisa. Se você quiser evidenciar sua força, leveza, sensualidade, autoridade, distanciamento ou um pouco de cada uma dessas coisas, ela te dá as ferramentas para isso.

Ser uma vítima da moda pode ser bem problemático, já que demonstra que a sua essência, sua personalidade e os seus valores pessoais ficaram em último plano.

Mas deixar a moda completamente de lado e viver com a mesma roupa para o resto da vida também tem seus problemas. Fazer isso é dizer para o universo que você parou no tempo e se colocou totalmente alheia às mudanças pelas quais todas nós passamos.

A vida não é estática, ela vai mudando e a gente vai evoluindo com as experiências e o nosso estilo é uma representação visual disso. O ideal é encontrar o meio termo.

Como se apropriar da moda, então?

Mesmo que você tenha uma ideia bem clara daquilo que gosta e com o qual se sente bem, pode acontecer de se encantar por algumas tendências ou ideias que aparentemente não têm nada a ver. Esse pode ser um ótimo momento para aprendizado.

De quem é essa vontade?

Quando essas vontades de abraçar tendências pintam, o primeiro passo é saber se são suas mesmo ou se é fruto de uma interferência externa muito forte.

Essa vontade surgiu por causa de uma pessoa que você admira? Por que você viu alguém próxima usando? Foi por que alguém te disse que você deveria tentar? Ou é sua mesmo?

É importante identificar isso porque se a gente usa algo que não fala com a nossa essência, o efeito pode ser o oposto do esperado. Em vez de se sentir mais segura, por exemplo, aquela vozinha que diz “alguma coisa não tá rolando aqui” pode acabar fazendo com que a gente se sinta mais retraída.

Uma maneira de investigar é se perguntar o que exatamente naquela imagem te agradou. Pode ser bacana fazer uma pesquisa de tendências, procurar por várias pessoas usando a mesma proposta. Depois, é separar o que te interessa e o que não faz sentido pra você e tentar identificar os pontos em comum entre cada grupo.

Entenda o que aquelas propostas ou tendências representam

Depois que você descartou a possibilidade de uma vontade não ser realmente sua, o próximo passo é entender o que aquela proposta representa, a quais estilos pertence e o que comunica.

Um jeito fácil de fazer isso é dar uma pesquisada na origem daquela peça ou coordenação. Principalmente hoje que a moda não tem caminhos tão mais novos pra seguir, é mais fácil olhar pra trás e entender sobre o significado quando surgiu e depois partir daí. Pesquise se o significado ainda é o mesmo, se foi adaptado, o que foi subvertido e o que ainda carrega dessa informação.

É legal também pesquisar o que exatamente fez com que aquela ideia virasse moda.

Um exemplo de como as peças podem ser ressignificadas é o do jeans. Ele que surgiu como uniforme de mineradores, depois virou símbolo de uma juventude rebelde e hoje é uma das peças mais democráticas que a gente pode ter no armário. Ele não carrega mais aquela ideia inicial de rebeldia, mas ainda carrega bastante informalidade.

Além disso, o próprio jeans, apesar de já clássico, pode apresentar variações na modelagem, na lavagem, no peso do material e isso também deve ser considerado.

Analise o que essas tendências fazem pelo corpo

Por exemplo: um dia desses, uma das minhas alunas da Aula de Estilo comentou sobre a sua vontade de usar meias 7/8 com saias, mas ter receio de fazer isso por ter pernas grossas.

Essa coordenação específica pode criar linhas horizontais que alargam e achatam as pernas. Mas uma vez que a gente identificou isso, dá pra procurar formas de adaptar.

Uma das sugestões que eu dei foi de usar uma saia mais próxima à meia, reduzindo essa ‘faixa’ de perna entre as 2 peças. Assim, essa ideia de engrossar a região seria menor.

Outro ponto, o principal nesse caso, é chamar mais atenção pra parte de cima do corpo. Por exemplo, usando blusas, colares, lenços e outros acessórios que tenham cores, estampas e deixar a parte de baixo em versões mais neutras.

Ainda sobre tendências: a estampa da camisa e a gola da jaqueta chamam mais atenção pra parte de cima e compensam o tanto de atenção que a meia chamaria sozinha. Imagem: Pinterest

A estampa da camisa e a gola da jaqueta chamam mais atenção pra parte de cima. Isso compensa o tanto de atenção que a meia chamaria sozinha. Imagem: Pinterest

Procure variações e formas de “subverter” isso

Outra questão levantada por essa aluna é que talvez essa coordenação pudesse trazer aquela associação ao uniforme de colegiais.

A melhor ajuda nesse ponto é a pesquisa inicial de referências. Isso quer dizer separar ideias de uso que a gente acha bacana e aquelas que não fazem sentido pra gente.

Com ela, fica claro como o jeito que as peças são combinadas é que terão o maior impacto aqui.

Pensando em outras coordenações

No caso da meia para quem quer evitar a imagem de colegial, é legal pensar em coordenar com outras peças que não a saia plissada e peças igualmente doces.

Vale peças com tecidos mais estruturados, cortes mais retos ou mesmo peças ainda maleáveis e soltas. Tipo um vestido de tricô, em vez da sainha plissada.

Aí é essencial entender o estilo como um todo. Pensar no que é possível dentro dele, além de juntar essas informações todas como um quebra-cabeças. As possibilidades são diversas.

cachecol compensando a meia e cores escuras

Aqui tem até uma certa doçura na estampa. Mas vemos as cores escuras, o caimento e também o volumão do cachecol trazendo força. O resultado fica feminino, mas não “menininha” demais. Imagem: Pinterest.

Às vezes, vale até substituir a peça por outra que tenha a mesma ideia, mas uma informação a mais. Por exemplo, a meia 7/8 pode ser trocada pela bota over the knee, que traz mais força e estrutura pro look. Ou mesmo olhar pra essas referências-irmãs e tentar seguir a mesma lógica com a peça originalmente desejada.

over the knee e saia xadrez

Vemos a bota over the knee, mas facilmente funcionaria com uma meia. É legal notar que a saia tem o xadrez, mas não tem plissado, as cores são bem neutras e o blazer traz mais força pra composição. Imagem: Pinterest

 

over the knee com vestido de trico

Outro com bota, mas que funcionaria com meia. Destaque ra pouca distância entre a altura da meia/bota e o vestido (mais soltinho mas não largo). Imagem: Pinterest

Deu pra ver que tudo pode ser adaptado, né? Na dúvida, a pesquisa é a sua melhor amiga e entender esses pontos listados aqui vai te ajudar a decidir se é uma boa investir na ideia ou não.

Publicado originalmente em 8 de agosto de 2016. Atualizado pela última vez em maio de 2019.

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